Estrelas

domingo, 23 de outubro de 2011

Espanando a poeira

Não costumo reler o que escrevo, geralmente porque não gosto do que leio e fico com vontade de modificar ou deletar o texto. E mesmo sabendo que isso seria um direito meu, o de fazer o que bem entender aqui no meu blog, entendo que, a partir do momento que você se propõe a publicar o que quer que seja, esse oquequerqueseja sai um pouco da esfera da sua propriedade, deixando de ser só seu. Ou seja, na cabeça torta desta que vos escreve, modificar ou deletar algo já publicado funciona como um furto qualificado...

Bom, dia desses caí de paraquedas num texto antigo e, pasmem, ainda concordo com cada ponto e cada vírgula lá pontuados. Tá, o texto nem é tão antigo assim, só tem um pouco mais de um aninho, mas me deu muita vontade de postá-lo novamente. Assim eu dou uma espanada na poeira que estava nesse meu canto aqui...Aí vai:


Gosto de ser honesta. Gosto de ter bom caráter. Gosto de ser justa. Gosto de não fazer ' mal a quase ninguém' . Gosto de saber que minha família me ama. Gosto da minha cultura mediana. Gosto do passado. Faltou oportunidade. Gosto do presente. Falta tempo. Gosto de lugares bonitos, gosto mais de pessoas bonitas, de almas bonitas. Também tenho uma. Gosto de música, gosto de dançar, gosto de filmes, mais de ir ao cinema. Gosto de teatro também, de beber um pouquinho e de comer um tanto além. Gosto de perfume, de cheiro de roupa nova, de barulho de sapato novo. Gosto de cheiro de homem cheiroso. Gosto de dinheiro, gosto de moda, de me sentir confortável . Gosto mais de viajar, de conhecer lugares novos. Gosto de café da manhã de hotel. Gosto de motel. Gosto de ser inteligente, o suficiente. Gosto do meu português honesto. Gosto do meu blog, meu diário. Gosto de ser sensível, de chorar à toa, de rir à toa . Gosto de ser bonita, gosto de me cuidar. Gosto de me cuidar, gosto de ser bonita. Tanto faz. De tudo isso, gosto mais que tudo de amar, de ver meus olhos brilharem, de ouvir minha boca convidar e de fazer meu corpo saciar. Gosto de cama. Gosto muito de cama, de sofá, de tapete, e de chão. Gosto de ser pessoa comum, na multidão. Gosto de ser especial. Gosto mais de ser única. Gosto mais ainda de ser a única.

domingo, 14 de agosto de 2011

Saudades suas


" Tá vendo, Seu Antonio, eu dou o dinheiro e ela (a mãe) é quem ganha o beijo!"

(risos, muitos risos)

"Ele quer um beijo????" Pensei, assustada com aquela possibilidade. Afinal, ele sempre foi tão austero, sempre guardou os raros momentos de afeto para o que chamava de datas adequadas, como se carinho tivesse hora e local marcado para se dar ou receber...Mas enfim, eu sabia que tanta austeridade escondia apenas a sua incapacidade de demonstrar amor através de qualquer contato físico. Não era sua culpa. De ninguém. Não lhe fora ensinado. Havia outras formas do seu amor se manifestar. Cuidados, responsabilidades, sacrifícios, doação, generosidade. Faltava o toque, mas não os olhares de aprovação, por vezes substituídos por aquele sorriso torto e sincero. Dizem que a perfeição, por não poder ser alcançada, é imperfeita. Bobagem. Pra mim, a imperfeição é que é perfeita.

Dei-lhe o beijo, e ganhei um abraço apertado. Mas nos abraçamos de forma diferente. O beijo e o abraço seriam os últimos. Não que isso fosse fazer alguma diferença na falta que viria, mas era como se ele soubesse que estava se despedindo. Eu não estava lá, no seu último ato, mas tive a minha última cena com ele. Poucas horas depois, um descuido faria com que aquele dia nem tão comum deixasse de sê-lo. Tantos mil volts modificaram a minha vida irremediavelmente.

Rostos conhecidos, olhares de comoção na minha direção, parecia que a cidade em peso estava no pronto socorro. Foi quando ouvi aquela maldita frase: "Morreu trabalhando". Que ousadia aquele vizinho fofoqueiro filho da puta querer ser o primeiro a me dar a notícia. Eu o odiei por muito tempo, aquele idiota, tadinho. É, fui a última a saber, tantas horas depois. Eu, que lhe era a favorita. O que se seguiu não difere em nada das demais tragédias alheias. Lágrimas, lamentações, desmaios, flores, dor. A dor que não passa. Nunca. Fica anestesiada. Recebe apelidos, como saudade. A sua, a dele, a minha, a que me inspira agora. Cada um com sua forma de lidar com ela, a certeza unica que nos é permitido ter.

Só conseguimos voltar para casa alguns dias depois de tudo. Alguém me entregou uma sacola de supermercado e nela estava a camisa que ele vestia na hora do acidente no terraço, um prêmio de consolo por ter sido a última a quem lembraram de avisar. Uma pequena mancha de sangue na gola, rasgos abaixo da pala, em tiras. Eu a queimei em frente à nossa casa. Não sei se sei, mas sei que ele estava ali, naquele momento. Como também esteve no meu quarto, enquanto eu pensava dormir, naquela primeira noite da sua ausência. Eu o vi, eu o toquei, e ainda posso sentir a sua barba 'por fazer' na minha mão e ouvi-lo dizer com o seu olhar, 'shhhhhhhh' , fique bem, estou aqui". Desde então percebi que sonhos, pelo menos os meus, são muito mais que...sonhos. Como toda ausência, a dele nos custou muito. Mas, quando não há nada a fazer, tudo passa. Porque o tempo, já sabemos, não para. Fica apenas o que o coração determina, e fica vivo, e pulsa junto com ele, mesmo que faça doer. Mas fica.

Estava em Penedo dia desses quando encontrei Cacildinha, e me lembrei daquela tarde em que, chegando em casa, avistei de longe sua kombi na calçada. Suas Kombis, amadas tal como amantes, suas paixões. Escorpiniano é foda. Pelo menos àquelas (as kombis) ele era fiel. A última era toda bege. Ainda é. Danei a correr, hipnotizada, sem pensar nem respirar, coração na mão, até chegar nela, até tocar nela, como num abraço, com rosto, com lágrimas. Quis encontrá-lo sentado à mesa, contando a féria do dia, ou me esperando para que a sua filha dileta aqui passasse a sua camisa, ou cuidasse daqueles pés tão castigados pelo cimento das massas que ajudava a revolver, para cobrir as lajes protetoras do seu lar, ou vestir os tijolos que se erguiam em paredes que nunca paravam de subir. Ou, ainda, ouvindo-o discursar sobre as hoje 'bolas cheias' e 'bolas murchas' dos jogadores do seu time paixão, meu também. Eu o entendia, falávamos a mesma língua. Nossa, como sou feliz por tê-lo tido em minha vida...

Ontem ouvi de um personagem qualquer que o amor é frágil. Concordei no instante, mas logo pensei, o amor não supera tudo? Não resiste até mesmo à morte? Ou será apenas esse romantismo recalcado que nos embaça? Não, o amor certamente é forte. Se é frágil, não é amor. Matemático. Simples. Quem dera. Pra que saber? Poder senti-lo é o que deveria importar. Seja por uma vida inteira. Seja num espaço desse tempo inventado, que nos desafia e tem a exata importância que damos. E se quando o sentimos, queremos possuí-lo, é por medo de aceitar que naõ existe o pra sempre, mas somente o até que... É isso o que dói.


Eu não podia deixar a Cacildinha, orfã, na vitrine daquela loja...
Ela não ficou linda na minha sala???




Foi mesmo uma pena não ter passado mais tempo com meu pai, mas me faz bem imaginar que teríamos sido muito felizes. É assim que mantenho as pessoas que estão tão longe sempre perto de mim...



segunda-feira, 30 de maio de 2011

E não é????


"Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez' "

Caio F. Abreu.






quinta-feira, 26 de maio de 2011

Original ou Cópia Fiel?






Palavras postadas no site FFFFOUND! Mesmo não sendo minhas, estão lá para serem lidas, criticadas, copiadas, tra-du-zi-das, mas DÊ os devidos créditos, mesmo aos anônimos!!!!! Afinal, você também é um escritor!!!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Uma xícara de carinho, por favor...



- Desculpe-me, estava lhe observando. É que seu nariz está tão vermelho, a senhora está tão congestionada, não está nem conseguindo comer o seu creme de aspargos. Posso dar uma sugestão?? É que eu também sou barman e tenho uma receita muito boa, infalível...

Foi desse jeito que um dos 'maitres' daquele restaurante se aproximou da nossa mesa, bem na hora em que eu colocava um lenço de papel no nariz para conter o trigésimo sétimo espirro dos últimos quarenta e nove minutos. Sem que eu me atrevesse a tirar o lenço de papel do nariz, acenei com a cabeça para que ele continuasse.

- Como eu ia dizendo, sou barman e tenho uma receita que é infalível. São dois shots de suco puro de limão, misturados a sprite, ou soda limonada. Eu garanto, em menos de dez minutos a senhora vai se sentir muito melhor.

Eu mal conseguia entender o que ele dizia, os olhos ardendo, a dor de cabeça, as crianças brigando porque uma tinha ficado com mais batata frita que a outra, o creme de aspargos que eu não conseguia sentir o cheiro, as palavras ininterruptas do maitre sobre os benefícios do limão, e o nariz que não parava de escorrer. Agradeci e disse que ele poderia trazer o tal milagre.

Alguns minutos após, voltava ele com um copo desses de litroemeio, cheio de gelo, uma latinha de sprite, e dois copinhos daqueles de servir cachaça com suco puro de limão, os tais 'shots' de limão. Ele colocou metade do refri no copo e um dos shots de suco de limão (ou o suco de limão de um dos shots???), deu uma balançadinha e colocou o copo de volta à mesa. E ficou parado. Olhando para o copo. E eu também. Levantei a cabeça e olhei pra ele, que continuava a olhar para o copo. Olhei para as crianças, que ainda brigavam pelas batatas fritas. Olhei para o pai delas, sentado ao meu lado direito, que devorava o seu jantar, sem tirar os olhos do prato (vai que a comida foge?), alheio a qualquer movimento ao seu redor. Olhei para o copo. Olhei para o maitre novamente.

- Você não vai colocar o outro shot de suco de limâo?

- Agora não. Este está pronto. Pode beber. De uma vez só.

Este??? Então tem mais um??? Pensei. Cinco dedos de refri, DE LIMÃO, um de suco, DE LIMÃO ... Respirei fundo e...glub, glub, glub, ahhhhhhhhhhh,,,,meus olhos lacrimejaram, arrepios até na alma...

- Forte, né???

- Agora vamos à outra metade.

O ritual se repetiu. Shot de limão no sprite. Mexedinha no copo. Maitre olhando fixamente para o copo. E loira também.

- Pronto. Você vai melhorar, vamos, coragem...

A primeira dose ainda estava brincando de gangorra aqui dentro. Desce pro estômago, sobe ao esôfago, estômago, esôfago, estômago, esôfago... Respirei fundo de novo. O maitre se afastou, mas senti que ele ficou me olhando 'dilonge'. Consegui beber o restante da receita. É, melhorei, bastante. Claro, uma dose daquelas de vitamina C levanta até elefante. Comecei a respirar melhor.

O maitre se aproximou novamente:

- Como está? Já estou vendo que o seu nariz está melhor! Viu como funciona??!!!

- Ah, claro, foi providencial ..

Não, não tive coragem - nem chance - de dizer a ele que, antes do jantar chegar, eu já havia tomado um comprimido de trimedal. Consegui terminar o meu creme de aspargos, que adoooooooooro, mesmo me sentindo uma bexiga de gás. só que cheia d'água. Olhei para o lado discretamente, e lá estava ele, meu maitremédico, nos observando, sorrindo feliz. As gentilezas continuaram. E foi amável com as crianças. E brincou com as sobremesas. E brincou com o pai das crianças que, se não estivesse tão distraído com a sua própria barriga, com certeza teria dito que fui cantada ou que o funcionário estava querendo impressionar o chefe, ou que ele não fez mais que a sua obrigação.

Não vejo mal algum em 'mostrar serviço' quando se precisa garantir um salário para o sustento da família no final do mês. E definitivamente aquele maitre fez mais que a sua obrigação. Foi observador e mais que gentil. Gosto muito de acreditar que há pessoas que se preocupam com o bem estar de outros. Gosto dos que não perdem a oportunidade de ajudar. Isso conforta a alma.

Tá bom, tá bom. Confesso. Estava carente, afinal não é todo dia que ninguém percebe que você está péssima, que ninguém pergunta se você quer mesmo jantar, que ninguém diz 'saúde' para os seus trinta e tantos espirros... Aquela atenção do maitre foi mesmo providencial, vestiu como um pret'a porter para uma loira invisível.

Não posso negar que a hipótese da cantada não me passou pela cabeça, mas considerando as circunstâncias, nem de longe seria a pior. Além de ter usado uma 'abordagem', digamos, eficiente, ele foi de um atrevimento só, pois não está escrito na minha testa que eu e o pai das crianças somos apenas amigos, e nem tão bons assim. Gosto de homem corajoso, de iniciativa, e um pouco de atrevimento não faz mal a ninguém. Além do mais, moreno, olhos verdes, com um sorrisão daqueles, se foi uma cantada, me deu 'mó moral' , o que também aquece a alma, o coração e outras partes do corpo...(rs)






quinta-feira, 28 de abril de 2011

Correio

Algum lugar, um dia/um mês/ um ano qualquer.

Oi,

Acho que deve ser assim que todas começam: 'Como vai? Tudo bem? Espero que sim."
Então, fui bem? Deixa pra lá. Apenas entenda que se o faço, é por não aceitar desperdícios, de energia, de tempo, de vida. Agora chega, né? Desculpe-me a intro-missão, e vamos ao que interessa.

Ela sabe que você procura e consegue entendê-la. Então, tente esquecer essa sua culpa e se esforce mais um pouquinho. Vou te contar tudo. Ela te esperou. O email, o telefonema. Eles não chegaram. Veio a noite, e o dilúvio, e essa noite do dilúvio foi uma espécie de catarse da sua solidão, da solidão dela. Mas e daí ? Teria sido diferente se você estivesse no banco do carona ou em casa, esperando-a para jantar??? A chuva teria sido menos intensa???? Ela não teria batido com o carro??? Não. Nada teria sido diferente. A chuva, o acidente, nem o estar sozinha, a não ser o fato dela precisar de um motivo a mais para querer se sentir viva. Esse motivo, o 'a mais', ela não tinha. Não tem. Eu sei que o 'nuncaterei' é forte, soa definitivo - e de definitivo, sabemos o que ??? Mas foi por aí que a coisa se deu. Descobrir ... a deixou irremediavelmente só. Sentiu tanta pena de si mesma que não sabia se chovia mais lá fora ou dentro do seu carro. A vontade de te ligar ficou insana. Nunca houve responsáveis ou culpados. Ela precisava que você soubesse disso. Que jamais sentiu ódio de você, que jamais quis ou pretendeu o seu mal. A uma, porque ama você; a duas porque desejar o mal de alguém está além da sua capacidade (até que ela tenta, mas não consegue). Ela sabe que ousou te intimidar, acho até que conseguiu ameaçar a sua paz. Foram palavras duras para verdades tão dela. Talvez não seja o caso de pedir perdão, mas compreensão. Tem tanta certeza de que o que viveram é único, verdadeiro, palpável, que não consegue pensar na possibilidade de estar enganada. Não está. Você está. A certeza vai além de saber que você a ama, vai até o 'é a ela quem você ama!' Pronto. Você precisava ouvir. Delírios??? Não. Ela pôde saber, muito antes e muito além de cada sorriso seu, cada olhar, palavras, no seu silêncio, nos seus sussurros, nos seus gozos. Mas de que adianta??? Você não o sabe assim. Ainda não. E é com esse futuro que ela precisa lidar. Quanto tempo levará??? Sem noção. Pode ser uma vida inteira???? Pode. Nada a fazer, a não ser tentar impedir que esse amor que ela sente se contamine com ciúmes, raiva, inveja, que precisa dominar. Por isso ela se afastou. Não por você ou por sua causa, mas por ele, para mantê-lo vivo. O amor. Sempre ele. É assim que ela é. Acerta errando. Mas dessa vez ela sabe que vai ter que aprender a contar com a sua própria companhia. Até quando, isso você pode responder.

Sem mais,

.


P. S.: não, ela não é um pingo, é o seu ponto, e vírgula, de exclamação, de interrogação, os dois, e todos juntos. E o final também.

terça-feira, 26 de abril de 2011

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A garota substituta





"Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa. Acredito que essa moça, no fundo, gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera. Estranho é que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é? A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas? A moça.. ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar. As vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera? E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário... por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo."

Caio Fernando Abreu





Just lie with me and lie to me...



terça-feira, 12 de abril de 2011


" Acordei agora.
Minto. Já tem mais de hora.
Li o seu recado mas não quis te acordar.
Minto. Não quis falar.
Minto.
Queria sim, só não sabia mais para que.
O que sai da boca, dos dedos, não reflete a vontade do coração.
Perdi a mão. Me sinto engolida,
Há turbulência.
Não sei de nada, nem do que é, do que parece que foi, do que seria se não tivesse sido.
Não sei se soube um dia.
Ou se a ilusão foi minha companhia.
Que importa. Foi embora
Meu riso e sorriso, te seguiram, me deixaram, se cansaram
Dizem que estou chata, me chamam de em-burra-da
Quero eles de volta.
Volta pra mim. "

Anônimo

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Once upon a time in the west - Finale


Era menina quando ouvi minha mãe pedir ao meu pai que a comprasse o 'LP' daquele filme. Era uma vez no Oeste. E ele comprou. O 'compacto'. E ela ouvia essa música repetidamente, centenas e centenas de vezes. Dizia que o ator principal tinha os olhos do meu pai. Que eram lindos. Que eram iguais aos meus. E ficava feliz sempre que ouvia. Mas eu não. Sentia uma tristeza imensa, uma dor sem fim. Doía tanto, que só em vê-la pegar na capa daquele compacto as lágrimas começavam a cair. Dava vontade de pedir, não, mãe, hoje não. E então vinha o pensamento, como se eu me visse conhecendo aquela dor, como se eu soubesse que um dia aquela tristeza seria minha, só minha. E sabia.



Tudo. O mais. Nada.

"Ela o amava. Ele a amava também. E ainda, que essa coisa, o amor, fosse complicada demais para compreender e detalhar nas maneiras tortuosas como acontece, naquele momento em que acontecia dentro do sonho, era simples. Boa, fácil, assim era. Ela gostava de estar com ele, ele gostava de estar com ela. Isso era tudo."

Caio Fernando Abreu



Era. Mas ela quis mais. Dar mais. Pertencer mais. Saber mais. Dividir mais. Sentir mais. Calar mais. Irritar mais. Ser mais. Amada. E ele sabia que o mais não podia. O sonho deixou de ser simples, fácil. O isso deixou de ser tudo...

Se não era mais tudo ... seria nada ?






sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sonhar é melhor do que nada...


Acho a maior graça. Tomate previne isso,cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas não exagere...

Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos.

Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde.

Prazer faz muito bem.
Dormir me deixa 0 km.
Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha.
Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos.
Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de idéias.
Brigar me provoca arritmia cardíaca.
Ver pessoas tendo acessos de estupidez me
embrulha o estômago.
Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano.
E telejornais... os médicos deveriam proibir - como doem!
Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo,
faz muito bem! Você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada.
Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde!
E passar o resto do dia sem coragem para pedir
desculpas, pior ainda!
Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou mussarela que previna.
Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau!
Cinema é melhor pra saúde do que pipoca!
Conversa é melhor do que piada.
Exercício é melhor do que cirurgia.
Humor é melhor do que rancor.
Amigos são melhores do que gente influente.
Economia é melhor do que dívida.
Pergunta é melhor do que dúvida.
Sonhar é melhor do que nada!

Martha Medeiros

terça-feira, 22 de março de 2011



De vez em quando me perco procurando explicações para o que é, porque apenas é, e ponto. Tentando buscar o razoável, que me parece sempre tão difícil. Ser razoável é ser normal? "Pessoas normais me assustam ". Deve ser por isso que fujo de mim cada vez que tento ser uma. Minhas, só as exclamações, interrogações, entrelinhas. Mas queremos tudo, as vírgulas, os parênteses, as aspas e os travessões. Queremos todos os pontos, quando o único que nos cabe é o final. Não entendo, e me vejo tão pequena. Não me entendo, e é quando me sinto tão vasta. Pra que entender? Melhor ir. Viver. Ir viver sem saber.

"Ela é mais que um sorriso tímido de canto de boca, dos que você sabe que ela soube o que você quis dizer. Ela fala com o coração, e sabe que o amor não é qualquer um que consegue ter. Ela é a sensibilidade de alguém que não entende o que veio fazer nessa vida, mas vive."
Caio F. Abreu



On second thought, don't return, keep me, with(and)in ...you

sexta-feira, 11 de março de 2011

Just answer


...não se trata de escolher entre trivialidades ou prioridades, de eu te amo's ou atitudes, de sexo pela manhã, tarde ou noite. Vivê-lo, e morrer aos poucos, ou não tê-lo, e .... morrer aos poucos?
O que você poderia fazer?



"...Can't you see that it's impossible to choose
(...)
No, there's no making sense of it
Every way I go I'm bound to lose,
Too much love will kill you
Just as sure as none at all
It'll drain the power that's in you
Make you plead and scream and crawl
And the pain will make you crazy
You're the victim of your crime
Too much love will kill you every time ..."




quinta-feira, 3 de março de 2011

"...for they could not love you, but still your love was true..."

Convidada para trabalhar como assistente de professor de inglês, recebi a tarefa de preparar um tema para uma das aulas de conversação. Aprovada na escolha, ganharia minha primeira turma. Para uma ainda menina de 16 anos, aquilo se apresentava como o maior desafio da minha vida. Peguei minhas edições do Washington Post e Brazil Herald para pescar um tema, ou algum texto já pronto, mas nada.

No dia ou dias seguintes, estava em minha sala terminando de corrigir alguns exercícios de alunos em recuperação quando ouvi 'Starry, Starry night'. Apaixonei-me no primeiro listening. Fui correndo até a sala de onde a música vinha e lá estava ele, com aquele sorriso lindo, naquela boca mais linda ainda, a me esperar: "Trouxe pra você ouvir. Sei que você vai gostar. " E contou-me um pouco sobre a vida de Van Gogh, de que ele teria tirado um pedaço da própria orelha e entregue a certo alguém como prova de não sei bem o que, e de que teria pintado a tela Starry Night enquanto internado num asilo ou hospital psiquiátrico. Já a canção foi 'pintada' por Don McLean, que teria se apaixonado por essa tela e que retratou um Vincent que me causou uma compaixão sem tamanho.

Muito provavelmente essa compaixão se deu pelo fato de que eu também havia convivido com alguém próximo, querida, amada, que não conseguia se fazer compreendida. [ but I really could understand what she tried to say...Sempre soube. ] Às vezes ela desistia dela mesma e eu temia muito que isso fosse para sempre, que ela não voltasse mais daquela viagem à escuridão da sua alma, como Vincent fez. Houve um período longo em que vivi, enquanto a visitava, a realidade de hospitais psiquiátricos, numa época em que os tratamentos se limitavam a choques elétricos, quartos de isolamento e drogas capazes de aniquilar qualquer fera. Era uma realidade dura para uma menininha com pouco mais de 08 anos, mas essa menininha sabia que tudo o que eles tinham que fazer era falar com ela, a sua pessoa querida, na língua do amor. Mas eles não sabiam, nem falar, nem ouvir (and they would not listen, they did not know how). É só medicina o que se aprende na faculdade...

Bom, levei o tema para a aula, um ou dois livros com telas de Van Gogh e toquei a música. Foi um sucesso. Durante muito tempo da minha vida, essa música me acompanhou como um 'livro de cabeceira'. Não entendo muito (ou nada) de arte, seja ela qual for, mas quando ouço Starry, Starry Night, fecho os olhos e é como se Vincent estivesse na minha frente pintando seus morning fields, suas flaming flowers and swirling clouds... e sinto tanta vontade de abraçá-lo, de salvá-lo ( como se eu tivesse o direito de fazer as opções dele...) McLean talvez estivesse certo quando disse que '...this world was never meant for one as beautiful as you."

[Queria muito agradecer à Fal, do Drops da Fal, por ter postado um video com essa música e ter me feito (re) viver momentos tão especiais ...]



'They would not listen, they're not listening still,perhaps they never will...'


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Que medo, que nada!!!!


Meus filhos são brilhantes. Sei que não se esperaria afirmação diversa de uma mãe pra lá de coruja, mas meus filhos de fato o são. Diferentemente brilhantes.

Maria Eduarda tem real noção do seu potencial. Assimila tudo com uma velocidade espantosa. Seu raciocínio é rápido e a argumentação flui naturalmente. É um ser extremamente racional, sabendo bem como usar o seu emocional (e o nosso) para conseguir o que quer. Mas não a chame de chantagista, pois isso a deixará desolada. Não fosse igualmente linda, vaidosa, extrovertida, a chamaria de nerd com o maior orgulho (embora discorde dessa associação que se faz entre o nerd e o feio; sou tarada por inteligência ).

Miguel é igualmente brilhante, mas ainda não sabe disso. Talvez um pequeno ajuste na sua auto estima fosse suficiente para ele conquistar o seu lugar ao lado dela no pódio. Não os comparo, mas ele sim, apesar do enorme orgulho que tem da Maria Eduarda. Ou talvez o seu QI emocional seja igual ao da mãe, -1. E não é caso para risadas...melhor chorar (rs).

Miguel quando chora está mesmo chateado, magoado e expressa isso da forma mais clara que pode. Tão doce quanto Maria Eduarda, está sempre pronto a ajudar e cooperar. Gosta de se sentir útil. Gosta de aprender, sempre. E muito. Tem um senso crítico apuradíssimo, e é por vezes demais severo com o seu ego lindo. Não é muito raro ouvi-lo explodir nessas palavras que tantas vezes critico: "Mãe, sou burro mesmo....". É quando tento por em prática toda a minha psicologia de mãe para aliviar a carga:

-Filho, já te disse que não existem pessoas burras (cof, cof, cof) . Todos nós nascemos dotados de uma inteligência mínima esperando ser tratada, cuidada, para que ela possa crescer e se desenvolver, como uma semente.
- Mas mãe, como é que se 'trata' uma inteligência????
- Com boa alimentação, boas escolas, cercando os filhos de informações necessárias e adequadas ao seu preparo, blá blá blá....e dando a eles muito amor .
-Então o Paulinho passou fome, mãe?? Será que a Tia Julieta não 'ama ele' (sic) ???
(risos)


(Falando em seres desprovidos desse 'cuidado' com a inteligência, andei mergulhando no aquário de dois pescadores altamente qualificados, Sr. Polvo e Sr. Burro. Nooooooossa, fiquei impressionadíssima com tanto conhecimento (do quê, mesmo???) Coitadinhos, pensam que ter vara e um monte de manuais de como colocar a minhoquinha no anzol basta. Bem papo de pescador... Para os 'gênios' que são, foram tão, tão, TAM BURROs!!!! Mil perdões às faunas marítima e equina...)


Bom, voltando ao meu Miguel, impressiona a sua capacidade de fazer altas conjecturas (rs) a respeito da vida:

- Maria Eduarda, você gosta de ser criança? Eu não gosto. Criança sofre muito porque adulto não entende criança. A mamãe sempre diz que quem fala a verdade não merece castigo. Eu falei pra ela que quebrei o vaso sem querer e ela me mandou ficar aqui sem televisão e sem DS, pode??? Vida injusta...Eu NÃO gosto de ser criança. Quando eu crescer eu vou ser adulto!!!!!

Ouvi essas pérolas do meu menino escondida atrás da porta, engolindo a seco as lágrimas, após ter dado uma palmada naquela bunda gorda e gostosa, pelo susto do vaso quebrado. E o pior...o vaso era HOR-RO-RO-SO!!!! Eu deveria tê-lo premiado por ter me livrado daquela ode ao mau gosto com um chute certeiro. Mas, como vocês já sabem, a loiríssima aqui só percebe as coisas algum 'tempinho' depois (é de 'nascença', gente, fui tirada a forceps, amassaram meu crânio... e de 'crescença' também, recebo altas doses de peróxido de hidrogênio de dois em dois meses).

Miguel tem medo do escuro, de filmes de terror e de sair à noite. Para todos esses medos houve algo pontual que os determinou. Estamos atentos. Mas, neste último sábado, pude perceber que ele está desenvolvendo uma qualidade que admiro muito, a capacidade de enfrentá-los.

Foi a primeira vez que eu os levei a uma cachoeira e, confesso, tive trabalho tentando convencer os filhotes de que não haveria perigo, ao contrário do que sempre costumo pregar. Eles foram. Confiaram. Maria Eduarda ficou na parte 'calma' da cachoeira e Miguel nem quis saber de entrar. Não insisti. Não queria por à prova a confiança depositada. Tio Thiago, recreador , resolveu brincar em uma pequena queda - mas com água suficiente para afogar meio exército napoleônico , desafiando os demais do grupo...



Maria Eduarda na parte calma da cahoeira


Desafios???? A loira não resiste a um!!!! Fui!!! Estudei o local, ri, estudei, ri, sentei , ri, e tchibum...desci!!!! Clap, clap, clap. Paguei um Sr. King Kong para aqueles pais e mães tão contidos. Gargalhava, muito. Para os meus filhos, se ainda não era, virei a Superalgumacoisa. Aquilo quase implodiu meu peito de tanta alegria. Mas o melhor estava por vir.



momento pré mico, digo, king kong...segura a Loira, tio Thiago


Ainda tentava me recompor do puta tombo que levei tentando sair da água (e da dor na banda esquerda da bunda), quando vi Miguel se dirigindo para a entrada da queda concentradíssimo, e dizendo, "Vou descer, mãe." Não sabia naquele momento se o brilho nos seus olhos era pela brincadeira em si ou pelo medo que tentava vencer, e que não era maior que o meu próprio de que ele se machucasse, o que me levaria de Superalgumacoisa à Supermãemerda em segundos. A resposta veio assim que ele mergulhou e emergiu:

- "Mãe, mãe, você viu??? Consegui!!! Consegui!!!

Filhos de peixe...

O aniversário foi dele. 08 anos. Mas quem ganhou o presente fui eu!!!!




Tio Thiago cuidando de Lívia, uma amiguinha, e Miguel







Mico na descida, mico na saída: tombaço com direito a prêmio nas videocacetadas do Domingão do Faustão. Derrota pura!!!!
(Mas tia Sara, competente que só, não me deixou escorregar em cima do tio Thiago...
ai, ai (suspiros), que pena!!!!)



Depois de caminhada, cachoeira, micos e uma banda esquerda da bunda roxa, mereço um geladinho...kkkkkk


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Elas vão desfilar, e o samba não vai morrer.



" Ensaiei meu samba o ano inteiro,
Comprei surdo e tamborim.
Gastei tudo em fantasia,
Era só o que eu queria.
E ela jurou desfilar pra mim,
Minha escola estava tão bonita.
Era tudo o que eu queria ver,
Em retalhos de cetim.
Eu dormi o ano inteiro,
E ela jurou desfilar pra mim...




*Na verdade, não há igual a Benito, em Retalhos de Cetim, e Alcione, em Não deixe o samba morrer...mas o Rubens não fez feio cantando esses dois sambas que eu amo !!!



...Eu vou ficar
No meio do povo, espiando
Minha escola
Perdendo ou ganhando
Mais um carnaval
Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final.
..




Aos meninos e meninas da Grande Rio, da Portela e da União da Ilha, minhas lágrimas de Beija Flor.
Eu sei que vocês sabem, mas preciso lhes dizer que tudo vai dar certo. Sempre dá.








Um pouquinho de Ferreira Gullar



"No mundo há muitas armadilhas e o que é armadilha pode ser refúgio e o que é refúgio pode ser armadilha Tua janela por exemplo aberta para o céu e uma estrela a te dizer que o homem é nada ou a manhã espumando na praia a bater antes de Cabral, antes de Tróia No mundo há muitas armadilhas e muitas bocas a te dizer que a vida é pouca que a vida é louca E por que não a Bomba? te perguntam. Por que não a Bomba para acabar com tudo, já que a vida é louca? Contudo, olhas o teu filho, o bichinho que não sabe que afoito se entranha à vida e quer a vida e busca o sol, a bola, fascinado vê o avião e indaga e indaga A vida é pouca a vida é louca mas não há senão ela. E não te mataste, essa é a verdade. Estás preso à vida como numa jaula. Estamos todos presos nesta jaula que alguém foi o primeiro a ver de fora e nos dizer: é azul. E já o sabíamos, tanto que não te mataste e não vais te matar e agüentarás até o fim. O certo é que nesta jaula há os que têm e os que não têm há os que têm tanto que sozinhos poderiam alimentar a cidade e os que não têm nem para o almoço de hoje A estrela mente o mar sofisma. De fato, o homem está preso à vida e precisa viver o homem tem fome e precisa comer o homem tem filhos e precisa criá-los No mundo há muitas armadilhas e é preciso quebrá-las."

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Alucine-se


Nunca foi minha intenção ter um blog para servir como referência, seja lá do que for. Esse não é o meu objetivo aqui, espaço onde apenas transcrevo minhas conversas nos quartos da Raquel, com a Raquel. Gosto de me reler vez ou outra, dos comentários que deixam, de saber que agradei, e também gostaria de saber que não. Sou minha mais fiel seguidora (rs). E quando sigo algum blog, é porque o seu conteúdo, ou algum dos seus textos me fez rir, pensar, chorar, refletir, enfim, me acrescentou, me influenciou de alguma forma (e deve ser assim com todo mundo, né mesmo? ). Daí eu criar o link para que essa minha memória tão distraída não o perca de vista.

Adoro o Alucinações Amorosas, que sempre teve um cantinho especial aqui em casa. E com a devida permissão do queridíssimo autor, vou rabiscar a parede desse cantinho com um dos seus poemas. Admiro o talento que o Marcello tem de usar as palavras para exalar poesia. Sim, seus poemas exalam. Têm cheiro de felicidade, de saudade, de dor, de amor, de gozo do corpo no amor. As emoções respiram e suspiram a cada verso lido, fazendo a pele arrepiar, os olhos marejarem, o coração transbordar. Espelham o que é comum em almas bonitas, aguçam sentidos não descobertos, nos enxergam e fazem companhia quando nos sentimos invisíveis. Alucinam.



Ando procurando


Ando procurando uma metade
deve ser sincera,
autêntica para ser amada
que seja alma, corpo e coração.

Que seja perfeitamente imperfeita
que seja infantil em sonhos
e adulta em atitude.

Ando procurando momentos de felicidade
que complete a minha metade,
que esteja próxima sem titubear em encantar
fascinar em cada gesto,
sem receio dessa proximidade.

Que seja crédula em amores impossíveis,
que caminhe sem medo no vazio
que captura a amargura,
e descobre as cerimônias mais espetaculares.

Metade mulher,
metade musa.

Ando procurando em um olhar triste
um verso,
uma harmonia onde possa despertar e dançar
fragmentos de um pequeno poema
para começar a amar.

Sou poeta, imperfeito ser humano
virtualmente perfeito,
viciado em aromas,
em terremotos emocionais,
com frequentes calafrios nas noites de sexo
onde objetos amados ganham vida,
e as mãos açoitam as folhas de papel.

Ando procurando a dolorosa sensação
de estar atado à outra pessoa,
a entrega total de si mesmo,
esse tipo de amor extinto que insiste
em pelejar contra as cinzas da efemeridade.

Minha metade é mulher,
curiosa,
manipuladora das regras,
com belas histórias e
carícias amorosas.

Ando procurando um outro olhar
que em seu próprio sentido é indecifrável,
misturando palavras certas e atitudes poéticas
como um caldeirão de uma fantástica alquimia.

Minha metade é quase invisível
um espectro de luz,
miragem de amor
lembranças de amores idealizados,
de encontros,
de beijos nunca consumados.

Ando procurando essa metade
de curvas imperfeitas,
vontade plena, que vive na palavra
e sobrevive na dança alheia dos meus sonhos.

Minha metade é dona de um sorriso
que convida,
provoca e ordena.

Por Marcello Lopes
Do Alucinações Amorosas


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011



" Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como ´estou contente outra vez´."

Caio Fernando Abreu







Cena e canção mais lindas de Moulin Rouge

sábado, 29 de janeiro de 2011

"A thing of beauty is a joy for ever"

Uma alegria para sempre

"As coisas que não conseguem ser

olvidadas continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as
datas não datam. Só no mundo do nunca
existem lápides... Que importa se –
depois de tudo – tenha "ela" partido,
casado, mudado, sumido, esquecido,
enganado, ou que quer que te haja
feito, em suma? Tiveste uma parte da
sua vida que foi só tua e, esta, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte da tua vida presente
e não do teu passado. E abrem-se no teu
sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto
deves à ingrata criatura...
A thing of beauty is a joy for ever
disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer."

Mario Quintana

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Brilho de uma paixão


" SÃO PAULO (Reuters) - Em alguns dos melhores filmes da neozelandesa Jane Campion, a arte é mais do que uma forma de expressão, é a forma como personagens transpõem barreiras físicas ou emocionais.

No mais recente filme da diretora, "Brilho de uma Paixão", está o poeta inglês do século 19 John Keats (Ben Whishaw, de "O Perfume"), o último dos românticos, que morreu jovem, aos 25 anos e teve um único amor na vida, Fanny Brawne (Abbie Cornish, de "Um Bom Ano").

Um amor tão poético quanto etéreo e platônico. Seria muito fácil transformar a história do casal num amontoado de clichês, com um poeta romântico morrendo no final sem que a paixão realmente se consumasse."


Não posso acrescentar muito mais do que os críticos que elogiaram o filme, ou não, fizeram, até porque passei boa parte da sessão tentando me livrar de tentáculos pegajosos de um polvo nojento que deixei cair na minha rede...Com certeza perdi muito dos diálogos - poesia pura, e da fotografia perfeita, das cenas belíssimas de uma Inglaterra que eu não imaginava pudesse ter existido. Atores ótimos, cineasta premiada... (ihhhh, olha eu tirando onda !!! Favor desconsiderar qualquer comentário meu, porque não entendo porra nenhuma de filmes. Porque passei boa parte da minha vida assistindo a blockbusters , de preferência cartoons. E foda-se quem achar que isso é algum defeito. E se for... foda-se de novo ).

Só quero falar de uma cena, uma única cena, a que me angustia toda vez que invade os meus seis sentidos. Fanny recebe a notícia de que seu Keats está morto. É comovente, como o seria qualquer perda nesse sentido. Mas não, não foi uma cena clichê. E , ao invés de me transbordar em lágrimas , fiquei ali, imóvel, paralisada. Queria chorar, não conseguia. Queria falar, não tinha o que. Também eu não conseguia respirar. O ar lhe (nos) faltou aos pulmões, muita dor...

Interpretação brilhante. Difícil descrever. Até hoje, quando me vem qualquer referência ao filme, onde quer que eu esteja, feliz ou nem tanto, fico quietinha, sentindo uma angustia, um vazio imenso que preenche o meu peito e quase me sufoca. Um misto de inveja, medo, auto piedade. Não inveja do sofrimento, mas do sentimento que o gerou. 'Aquilo' fez todos os meus 'graaaandes' amores parecerem tão pequenos, tão distantes... Sinto medo. Medo de que exista mesmo o tal, o único. Medo de passar pela vida sem conhecê-lo. Sem merecê-lo.