Estrelas

terça-feira, 31 de agosto de 2010


Estive no Corcovado neste último domingo. Levei irmãos, sobrinhos, minha família...enfim, especialmente por isso, foi um dia muito especial. Não vou gastar aqui linhas sobre ser aquela uma das maravilhas do mundo, mas maravilhoso mesmo é descobrir o quanto se é pequeno diante do que se vê de lá. E é sempre como se fosse a primeira vez, cada companhia, um ângulo diferente ainda não descoberto...

Bom, virgindades à parte, nem tudo foi tão belo assim. Não sou carioca, sou nilopolitana, mas são cidades ...contíguas (rs), portanto, falarei como se da gema fosse. É tudo nosso??? Então, que porra de negócio é esse de se cobrar R$36,00 para pegar o trem do Corcovado,com um tempo mínimo de espera de 02 horas, ou ter que desembolsar R$44,00 para pegar uma van e evitar a espera????

Tá. Tem a manutenção das escadas rolantes, dos elevadores, dos banheiros, que estavam limpos meeeeeesmo, salários etc, etc, etc, que gera um custo, mas, para variar, fizeram disso um "negócio da china". Você tem noção de quantos turistas passam por ali por final de semana????

Acho que acabei de responder às minhas indagações. Não somos turistas, somos somente a população do Rio de Janeiro, estado ou cidade, e aquela maravilha não é nossa e não foi feita para a nossa contemplação.

Quem disse que foi????

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Enchantagem (Paulo Leminski)



de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo

esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima

de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito

pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito

que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar

tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece verdade

o pau na vida
o vinagre
vinho suave

pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Profissão de Febre



quando chove,
eu chovo,
faz sol,
eu faço,
de noite,
anoiteço,
tem deus,
eu rezo,
não tem,
esqueço,
chove de novo,
de novo, chovo,
assobio no vento,
daqui me vejo,
lá vou eu,
gesto no movimento

Paulo Leminski

domingo, 22 de agosto de 2010

Coisa natural da vida


Quarto totalmente escuro. Meus filhos e eu. Uma cama queen size e uma de solteiro. É assim que dormimos e só dormimos assim.
-Mãe, sabia que o tio do João Vitor morreu?
-Sabia, Bb.
Miguel ficou em silêncio por alguns segundos e então começou a chorar compulsivamente.
-Filho, o que você tem? Fala pra mim, não chora...
-Mãe, e se você, o papai, a Vó Nabiha e o Vô Miguel morrer (sic), como eu vou ficar???
Aquilo me pegou de surpresa. Odeio surpresas. Não sei lidar com elas. Acabo sempre fazendo ou falando m. Quase perguntei, 'mas filho, tem que morrer todo mundo assim de uma vez???'. Mas uma coisa me chamou a atenção. Ele não incluiu a minha mãe, que é a paixão dele. Não resisti.
- E a Vó Judite?
Muito rápido, sem titubear, com toda a certeza do mundo, Miguel respondeu:
- Não mãe, a Vó Judite só tem 66 anos e ela é muito forte. Ela leva a gente pro campinho e joga muita bola. A minha Vó Nabiha e o Vô Miguel é que têm muita doençinha. A Vó Judite não.
Suspirei aliviada porque poderia ter causado mais dor incluindo a minha mãe naquela incursão. Mas o alívio não durou muito tempo. Nossa, a Vó Judite é imortal para ele, e apenas ela. Mas não quero pensar nisso agora.
Esse é um tema (a morte) que, cedo ou tarde, invade o coração das crianças em determinada fase, mas não sabia o que dizer naquela hora. Sem contar que surpresas são inimigas do meu raciocínio, fazem pressão. Não funciono sob pressão. Meu QI emocional é 0, e já melhorei muito. Fui salva pela Maria Eduarda, minha libriana justa, do alto de sua sabedoria de 09 anos de idade.
- Miguel, presta atenção na sua irmã. Isso é coisa natural da vida.
Disse ela.
- O que é coisa natural da vida?
- É assim, ó, a gente nasce, cresce, fica velhinho e morre. Todo mundo é assim. Não fica triste não. Isso acontece com todo mundo.
-É assim, mãe?
- Exatamente assim.
- Aquilo tudo, tá mãe. Você ora? Não esquece de orar pelo papai. Quando terminar, diz amém.
Esse é o nosso código de boa noite. Nessa ordem. Um sempre começa. E digo em seguida, para cada um deles:
- Pra você também. Sempre oro (pelo pai deles).
Nem sempre rezo, oro, ou converso com Ele. Essa é a hora que Morfeu me abandona, pensamentos me invadem e ela, essa insônia, me cumprimenta.
- Mãe, você já orou?
- Já. Amém.
-Amém.
-Amém.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Falésia : forma geográfica litoral, caracterizada por um abrupto encontro da terra com o mar. (wikipedia)



Estava revendo meus álbuns quando achei essa foto aí de cima. Mais do que lembrar desse dia, quando chegamos lá no alto, em Morro Branco, Fortaleza, lembro-me da expressão de felicidade no rosto do Zé, olhando para o meu. A minha alegria o encantava mais do que todo aquele tom lindo de laranja que refletia daquelas falésias. A minha emoção, que tentava escorrer pelas lágrimas que eu não deixava rolar, o comoveu. Foi como se, naquele momento, ele tivesse compreendido porque o caminho de um ser tão diferente havia cruzado o dele...para me proporcionar momentos tão felizes (obrigada). O nosso amor deixou marcas lindas, como aquelas falésias que visitamos, expressão perfeita para um encontro intenso e abrupto. Eu, Terra. Você, mar.

domingo, 15 de agosto de 2010

Carpinejar.blospot.com

Acabei de assistir à entrevista que Fabrício Carpinejar deu a Jô Soares. Sensacional. Que figura!!!! Estou louca para comprar 'Mulher Perdigueira', que, usando suas próprias palavras, é uma biografia do poeta. Se tivesse demorado mais um pouco a nascer, com tantos cromossomos femininos, certamente Carpinejar seria 'ela'. Que pena que ele já encontrou sua Cíntia...rs



(será que ao copiar sua foto do blog aqui para o meu terei que pagar pelos direitos autorais??? Hummm, pode cobrar, querido, aceita pagamento in natura???? De qualquer forma, peço licença desde já...mas para a Cíntia..Um beijo na sua boca, Carpinejar lindo!!!)

sábado, 14 de agosto de 2010

Amor da sua vida


(...)
Falo ininterruptamente
você nao se cansa
de minhas histórias ouvir
ri, sorri, de mim se encanta
me cuida, se entrega
me faz dormir
então...termine logo isso aí
vem, não demore a saber
mas não se apresse, não vou desistir
porque sei que qualquer dia
você vai me (re)conhecer...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Mesma foto, retratos diversos



Essa coisinha aí atrás da minha foto cheia de letrinhas é a 'tataravó' da minha mais recente aquisição, meu notebook, e foi dada à Raquel Cristina por seu padrinho (aquele do reencontro mágico da minha infância), num último Natal que reuniu todos da minha família. Pequenininha, branquinha, do tamanho do colo da Raquel. Meu padrinho me conhecia mais do que a ele mesmo. Sabia que um dia ela me ajudaria a contar histórias.

E a primeira por pouco não acabou numa tragédia. Um presentinho inocente??? Que nada!!! Pivô da tentativa de suicídio da caçula das Marias.

Tia Fernanda, a tal caçula, tinha 02 anos quando o clã dos Bartolos desembarcou cá nesta p. desta terra. Não que a deles fosse muito melhor. É que a família da minha mãe é a única que conheço de além mar que aqui chegou e mais pobre ainda ficou. Nem uma padaria, um mercadinho, ou uma tendinha qualquer. Puta que pariu!!! Nada. Mas, enfim, deixa pra lá. Voltemos ao suicídio.

Pois bem. Naquele Natal, foi feita uma última tentativa de amigo oculto. Canso de falar que isso não dá certo. Mas diziam, " É mais econômico. Todo mundo ganha um presentinho e ninguém fica triste." O problema é que nem todos queriam ganhar só um presentinho, e quando alguém ganhava um presentão, puta que pariu de novo, o amigo virava inimigo.

Como ninguém me ouvia, restava a mim ser a 'desmancha-prazer', a chata. Eu não sossegava enquanto não descobrisse todos os ocultos. Fazia charme para uns, mentia sobre o meu para outros, enchia o saco mas ía formando a minha listinha. Vovó tirou Tio Joaquim. Tio Joaquim tirou Tia Lourdes. Tia Lourdes tirou Mamãe. Mamãe tirou Tia Fernanda...Bom, chegou o dia do Noel e lá estava eu, orgulhosa por ter desvendado quase todos. Só restara saber quem o meu amado padrinho havia tirado e quem havia me tirado. É, sou loira de nascença.

Quando ele chegou com aquele embrulho enorme - a minha Hermes Baby, Tia Fernanda arregalou seus goooordos olhos e deixou-se trair descaradamente por uma inveja que a matava lentamente.

"Só pode ser pra malcriada da Raquel. É a filhinha dele, não é??? Mas quem fica aqui na cozinha sou eu, quem faz a comida sou eu!!!"

Pra resumir essa quase tragédia, o que era um quase comum nas reuniões dos Bartolos, quando os amigos ocultos se declararam e os presentes foram abertos, minha querida Tia Fernanda e seu ego do tamanho da sua barriga se trancaram no banheiro com uma faca.

"Ai, Jesus, acudam a minha menina!!! Oh, Fernanda, que tú estás a 'fazeire' uma sandice!!!", gritava minha avó, tadinha, batendo à porta.

" Se tentarem entrar, eu me mato, eu me mato! Olha o que eu ganhei, olha o que eu ganhei, um jogo de copos!!! Com tanto copo de geléia aí, pra que um jogo de copos????"

Senti tanta raiva dela quando ouvi isso que pensei, "Enfia a faca logo nesse bucho e para de falar mal dos copos que a MINHA MÃE te deu, sua Casa da Banha!!!" ( ainda não dominava a arte dos palavrões nessa época).

Tudo acabou bem, e não fosse a covardia daquele ego horroroso, hoje eu não estaria aqui rindo. Tia Fernanda, minha gostosa Tia Nananda, será sempre aquela adultolescente sem limites, que pensa que a vida gira em torno de um baleiro de um botequim qualquer, e que meus filhos e sobrinhos amam de paixão. Seu ego continua dodói, mas sua alma é tão doce quanto os milhares de bolos, tortas, mousses, pudins, babas de moça, brigadeiros, beijinhos etc, etc, etc, que ela nos prepara até hoje. E também por isso, continua sendo a atração principal das nossas festas. Mas sem facas.

On second thought...esperem um pouco, acabou de me surgir uma idéia pavoroooooosa (kkk). Meu padrinho e a tia Fernanda não se davam nada bem...

Padrinhooooooooooo!!!!

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Ontem um amigo, lá do Amor de Papelão, me falou do seu projeto de escrever um livro contando histórias de sua família. Desculpe-me, amigo, por copiar a sua idéia. É que as da minha família também são tantas e eu os amo tanto, que não resisti...Essa daqui, por exemplo, deveria ter sido a primeira da minha Hermes Baby. E é. Como toda tataravó sábia, ela ficou ali, quietinha, esperando esse seu tataraneto aqui chegar para ouvi-la e contar a vocês.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Seus espinhos, meus afetos


Dia dos pais. Das mães. Das crianças. Das avós. Essa coisa de se eleger um dia por ano para dizer eu te amo para alguém (e de quebra, comprar um presentinho) faz com que eu me sinta mais gado do que nunca. Será que tem como fugir disso? Muitos dirão que não, que precisamos viver em grupos, grupos que se organizam, que criam regras, desenvolvem costumes, e formam uma cultura. Conservadora, liberal, materialista, consumista ... não importa o nome que se dê, é assim que elas vão se definindo. É assim e ponto. Ah, mas esse ponto não pode ser final.

A transformação, embora lenta, é possível. Melhor, é inevitável. Lembro-me de que, quando criança, só podia ter um abraço do meu pai nos dias de nossos aniversários, Natal e Ano Novo e, é claro, no dia dos pais. Não que isso o tivesse impedido de ser um excelente pai, ou que ele não amasse seus filhos, mas a ele fora ensinado que essas demonstrações físicas ou públicas de afeto só poderiam acontecer em datas festivas. Eram paradigmas que nós tínhamos que aprender a aceitar.

Pois é. Alguns têm facilidade para a coisa. Outros, como eu, sofrem mais, porque questionam, e muitas vezes não conseguem quebrá-los, os tais paradigmas. Tá vendo a cara embirrada lá da foto??? Eu sei, eu sei, já faz muito tempo... a cara aqui é outra, mas a marrenta continua a mesma.

Sei que as manadas nos são necessárias, nos protegem de predadores, nos confortam nas perdas. Mas aprender a respeitar as diferenças, digo, aprender a respeitar por causa das diferenças, também é uma questão de sobrevivência. Sabe aquela historinha dos porcos espinhos na era glacial? Eles se uniram, agasalharam-se e juntinhos ficaram muito, muito pertinhos para enfrentar o inverno. Mas seus espinhos incomodaram, feriram, magoaram tanto uns aos outros que eles começaram a afastar-se, e, sozinhos, começaram a morrer de frio. Perceberam então que, para sobreviver, tinham que se aproximar novamente, com jeitinho e precaução, mantendo uma distância mínima suficiente para que eles, assim convivendo, pudessem se aquecer novamente e resistir à era glacial.

Já fui muito mais intransigente com os espinhos alheios. Hoje procuro não ser nem intolerante, nem tolerante, porque - sempre cito Saramago - ser uma coisa ou outra nos confere um ar de superioridade, o que eu procuro evitar. Pelo menos eu tento, porque essa não é uma tarefa fácil. Mas também não preciso de permissão para ser diferente. Isso me é inerente e independe da vontade de quem quer que seja, mesmo sabendo que existe uma busca incongruente pela aceitação através do 'ser igual'. Igual nos atos, gostos, falas e o mais. Momento manada. Não se iluda, todos o temos.

Mas que eu seja bem querida e também queira bem justamente por conta delas, as minhas e as suas diferenças, os nossos espinhos. Acho que é assim que se desenvolve o afeto nas relações. Não importa em que ele vai se transformar ou em como, onde, quando ele se iniciou, se numa paixão meteórica ou numa amizade serena, numa briga de trânsito ou na balada do fim de semana, se é de longa data, ou recém chegado. Mas ele tem que existir. No seu dia-a-dia, na sua família, no seu trabalho, nos amores da sua vida, ou simplesmente no sexo pela simples troca de prazeres. É de afeto que precisamos. É ele que eu busco sempre.