Estrelas

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Mesma foto, retratos diversos



Essa coisinha aí atrás da minha foto cheia de letrinhas é a 'tataravó' da minha mais recente aquisição, meu notebook, e foi dada à Raquel Cristina por seu padrinho (aquele do reencontro mágico da minha infância), num último Natal que reuniu todos da minha família. Pequenininha, branquinha, do tamanho do colo da Raquel. Meu padrinho me conhecia mais do que a ele mesmo. Sabia que um dia ela me ajudaria a contar histórias.

E a primeira por pouco não acabou numa tragédia. Um presentinho inocente??? Que nada!!! Pivô da tentativa de suicídio da caçula das Marias.

Tia Fernanda, a tal caçula, tinha 02 anos quando o clã dos Bartolos desembarcou cá nesta p. desta terra. Não que a deles fosse muito melhor. É que a família da minha mãe é a única que conheço de além mar que aqui chegou e mais pobre ainda ficou. Nem uma padaria, um mercadinho, ou uma tendinha qualquer. Puta que pariu!!! Nada. Mas, enfim, deixa pra lá. Voltemos ao suicídio.

Pois bem. Naquele Natal, foi feita uma última tentativa de amigo oculto. Canso de falar que isso não dá certo. Mas diziam, " É mais econômico. Todo mundo ganha um presentinho e ninguém fica triste." O problema é que nem todos queriam ganhar só um presentinho, e quando alguém ganhava um presentão, puta que pariu de novo, o amigo virava inimigo.

Como ninguém me ouvia, restava a mim ser a 'desmancha-prazer', a chata. Eu não sossegava enquanto não descobrisse todos os ocultos. Fazia charme para uns, mentia sobre o meu para outros, enchia o saco mas ía formando a minha listinha. Vovó tirou Tio Joaquim. Tio Joaquim tirou Tia Lourdes. Tia Lourdes tirou Mamãe. Mamãe tirou Tia Fernanda...Bom, chegou o dia do Noel e lá estava eu, orgulhosa por ter desvendado quase todos. Só restara saber quem o meu amado padrinho havia tirado e quem havia me tirado. É, sou loira de nascença.

Quando ele chegou com aquele embrulho enorme - a minha Hermes Baby, Tia Fernanda arregalou seus goooordos olhos e deixou-se trair descaradamente por uma inveja que a matava lentamente.

"Só pode ser pra malcriada da Raquel. É a filhinha dele, não é??? Mas quem fica aqui na cozinha sou eu, quem faz a comida sou eu!!!"

Pra resumir essa quase tragédia, o que era um quase comum nas reuniões dos Bartolos, quando os amigos ocultos se declararam e os presentes foram abertos, minha querida Tia Fernanda e seu ego do tamanho da sua barriga se trancaram no banheiro com uma faca.

"Ai, Jesus, acudam a minha menina!!! Oh, Fernanda, que tú estás a 'fazeire' uma sandice!!!", gritava minha avó, tadinha, batendo à porta.

" Se tentarem entrar, eu me mato, eu me mato! Olha o que eu ganhei, olha o que eu ganhei, um jogo de copos!!! Com tanto copo de geléia aí, pra que um jogo de copos????"

Senti tanta raiva dela quando ouvi isso que pensei, "Enfia a faca logo nesse bucho e para de falar mal dos copos que a MINHA MÃE te deu, sua Casa da Banha!!!" ( ainda não dominava a arte dos palavrões nessa época).

Tudo acabou bem, e não fosse a covardia daquele ego horroroso, hoje eu não estaria aqui rindo. Tia Fernanda, minha gostosa Tia Nananda, será sempre aquela adultolescente sem limites, que pensa que a vida gira em torno de um baleiro de um botequim qualquer, e que meus filhos e sobrinhos amam de paixão. Seu ego continua dodói, mas sua alma é tão doce quanto os milhares de bolos, tortas, mousses, pudins, babas de moça, brigadeiros, beijinhos etc, etc, etc, que ela nos prepara até hoje. E também por isso, continua sendo a atração principal das nossas festas. Mas sem facas.

On second thought...esperem um pouco, acabou de me surgir uma idéia pavoroooooosa (kkk). Meu padrinho e a tia Fernanda não se davam nada bem...

Padrinhooooooooooo!!!!

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Ontem um amigo, lá do Amor de Papelão, me falou do seu projeto de escrever um livro contando histórias de sua família. Desculpe-me, amigo, por copiar a sua idéia. É que as da minha família também são tantas e eu os amo tanto, que não resisti...Essa daqui, por exemplo, deveria ter sido a primeira da minha Hermes Baby. E é. Como toda tataravó sábia, ela ficou ali, quietinha, esperando esse seu tataraneto aqui chegar para ouvi-la e contar a vocês.

Um comentário:

  1. Raquel, adorei (tudo) desde a foto. Não tive tempo de vir aqui antes e para ler você, por dentro e por fora, é preciso tempo não é mesmo? Mas enfim... fico contente que esteja escrevendo e bem, muito bem. Adoro suas estórias e leio como se você as tivesse me contando. E não está?

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