Estrelas

domingo, 22 de agosto de 2010

Coisa natural da vida


Quarto totalmente escuro. Meus filhos e eu. Uma cama queen size e uma de solteiro. É assim que dormimos e só dormimos assim.
-Mãe, sabia que o tio do João Vitor morreu?
-Sabia, Bb.
Miguel ficou em silêncio por alguns segundos e então começou a chorar compulsivamente.
-Filho, o que você tem? Fala pra mim, não chora...
-Mãe, e se você, o papai, a Vó Nabiha e o Vô Miguel morrer (sic), como eu vou ficar???
Aquilo me pegou de surpresa. Odeio surpresas. Não sei lidar com elas. Acabo sempre fazendo ou falando m. Quase perguntei, 'mas filho, tem que morrer todo mundo assim de uma vez???'. Mas uma coisa me chamou a atenção. Ele não incluiu a minha mãe, que é a paixão dele. Não resisti.
- E a Vó Judite?
Muito rápido, sem titubear, com toda a certeza do mundo, Miguel respondeu:
- Não mãe, a Vó Judite só tem 66 anos e ela é muito forte. Ela leva a gente pro campinho e joga muita bola. A minha Vó Nabiha e o Vô Miguel é que têm muita doençinha. A Vó Judite não.
Suspirei aliviada porque poderia ter causado mais dor incluindo a minha mãe naquela incursão. Mas o alívio não durou muito tempo. Nossa, a Vó Judite é imortal para ele, e apenas ela. Mas não quero pensar nisso agora.
Esse é um tema (a morte) que, cedo ou tarde, invade o coração das crianças em determinada fase, mas não sabia o que dizer naquela hora. Sem contar que surpresas são inimigas do meu raciocínio, fazem pressão. Não funciono sob pressão. Meu QI emocional é 0, e já melhorei muito. Fui salva pela Maria Eduarda, minha libriana justa, do alto de sua sabedoria de 09 anos de idade.
- Miguel, presta atenção na sua irmã. Isso é coisa natural da vida.
Disse ela.
- O que é coisa natural da vida?
- É assim, ó, a gente nasce, cresce, fica velhinho e morre. Todo mundo é assim. Não fica triste não. Isso acontece com todo mundo.
-É assim, mãe?
- Exatamente assim.
- Aquilo tudo, tá mãe. Você ora? Não esquece de orar pelo papai. Quando terminar, diz amém.
Esse é o nosso código de boa noite. Nessa ordem. Um sempre começa. E digo em seguida, para cada um deles:
- Pra você também. Sempre oro (pelo pai deles).
Nem sempre rezo, oro, ou converso com Ele. Essa é a hora que Morfeu me abandona, pensamentos me invadem e ela, essa insônia, me cumprimenta.
- Mãe, você já orou?
- Já. Amém.
-Amém.
-Amém.

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