Estrelas

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

To Maria Eduarda

"Sshhhhhh...calma bebê, é a mamãe ..." E ela acalmou, e eles desabaram...kkkk


Acabei de ler o post sobre o nascimento do Leo, afilhado do meu querido Ivan, do Amor de Papelão, e isso me fez ter vontade de falar um pouco sobre os meus filhos (não é inveja, é corujice pura) . Sei que toda mãe, todo pai, tem uma história especial de filho para contar, ou mesmo várias, e, com certeza, a minha não será a primeira, mas, pelo óbvio, é a mais especial (rs). Minha bebezona acabou de completar uma década ao meu lado, e isso merece um ' postzinho'.

Poderia começar com aquela tarde de sábado, quando, enquanto dirigia pela Av. Brasil, voltando da minha pós, lembrei-me do sonho da noite anterior. A imagem que me veio de repente foi a de um bracinho, fino, branco, delicado, etéreo, entrando pelo meu corpo (pelo mesmo lugar por onde os bebês saem quando o parto é esse tal de 'normal'). Sonho esquisito, pensei. Pois bem. Alguns dias após descobri-me grávida. E pelos cálculos feitos pelo obstetra, 'ela' havia sido fecundada naquela tal noite. Coisas de Papai do Céu...

Com o resultado positivo, vieram os enjôos. Sabe o que é emagrecer OITO kilos no início de uma gravidez??? Nem queira. Mas ninguém me dava muita bola, exceto a minha mãe, que me fazia bolinhos de chuva num verão de 40º e torrou todos os tacos antigos da casa numa fogueirinha no terraço, só para eu matar o desejo de comer casca de batata doce assada na brasa. Delícia??? Você leu direitinho??? Eu senti desejo de comer A CASCA, e não a batata!!!! E a minha cara ficou da cor do carvão...linda!!!! Pergunta se eu vomitei??? Nadica. Mas deixa isso pra lá.

Maria Eduarda se recusava a mostrar o sexo desde as primeiras tentativas. Já estávamos caminhando para o oitavo mês e nada. Toda vez que ela sentia aquela meleca gelada na minha barriga, a danada cruzava as pernas. É vero. Dava para ver o X no video. Eram os femur (sic) da danada. Viu como ela já era comportadinha aqui dentro???

Então tive um outro sonho. Eu chegava em algum cômodo de uma casa e lá estava a minha mãe, em pé, segurando no colo um bebê , já durinho. Era uma menina . E ela, a bebê, me falava, com aquele olhar que jamais vou esquecer, "Não, mamãe. Não é um menino. Sou eu, a sua Maria Eduarda" . E sorria. Foi tudo tão claro, tão nítido, tão real que, mesmo já com os olhos abertos, por alguns segundos não sabia mais se ainda estava dormindo, se estava acordada, ou onde eu estava...uma confusão só. Ria e chorava ao mesmo tempo. Tá. Não é muito difícil fazer uma grávida, aquariana, com ascendente em câncer, chorar. Muito menos rir. Mas foi realmente impressionante.

Troquei de roupa, 'chamei' o elevador, desci correndo pelas escadas, e cheguei à loja do então futuro papai, sem sequer me lembrar de escovar os dentes ou de tirar as ...pantufas!!!! Já entrei lá gritando, " É a Maria Eduarda, é a Maria Eduarda!!!". Eu não conseguia parar de falar, de repetir, de contar o sonho o tempo todo, como se temesse que qualquer detalhe pudesse me escapar naquela manhã. O cabelo dela, preto e cacheado, os olhos, amendoados, e igualmente pretos,lindos ... a pele, branca, branca, branca... o vestido azul, ela no colo da minha mãe, seu olhar, seu sorriso...até que uma voz estranha me tirou daquele surto. Era uma funcionária, se não me falha a memória de nome Regina, me perguntando sobre a cor dos olhos, no que respondi que eram pretos, como os do pai.

Chegou o dia do parto: 04 de outubro de 2000. Ela só nasceria à noite. Passei o dia falando com o marido, a mãe, o obstetra, o anestesista, a enfermeira, o guarda da maternidade, o flanelinha etc, etc, etc, que eu NÃO QUERIA DORMIR DURANTE A CESÁREA e que, já que não seria a primeira a vê-la chegar ao mundo, que fosse a primeira a falar com ela. É isso mesmo. Proibi todo mundo de abrir a boca na hora H. Queria que fosse minha a primeira voz que ela ouvisse. E não é que me obedeceram??? Quando Maria Eduarda nasceu, fizeram um silêncio tão comovente, que eles (obstetra, enfermeira, anestesista, pediatra, cunhada, prima da cunhada, marido da prima da cunhada, irmã, mosca...), percebendo que ela ficara quietinha ao ouvir a minha voz dizendo baixinho: " shhhhhhh, calma bebê, é a mamãe", desabaram todos ...e aí ...foi um choro só.

(Da visita da mosca no meio do parto, em pleno centro cirúrgico, eu só soube depois. Não, não 'processei' a maternidade. Já disse que não nasci pra ganhar dinheiro???? )

E o sonho???? Bom, parte daquela minha ansiedade se deu por conta dele. Queria a certeza de que eu tivera uma visão, um aviso, uma benção, sei lá...qualquer coisa que me tornasse, quem sabe, um ser ... especial ? É. Acho que foi isso. Expectativa frustrada. O meu bebê, com cara de joelho, não se parecia em nada com aquele que falara comigo naquela noite. E nem poderia, concordam??? Pois é. Tive que engavetar aquele lindo sonho num lugar qualquer aqui da memória.

Oito ou nove meses depois, voltei a estudar. Precisava retomar a minha pós. Recomeço difícil. Marido contra. Sogra, a dele, a favor. Brigas, muitas. Chegou o sábado, primeiro dia de aula. Levantei-me às cinco da manhã, minha mãe me aguardava às seis, e eu só retornaria às cinco, da tarde. Foi um dia difícil. Quase não resisti às saudades e às críticas. Muita culpa e coração apertado o dia inteiro. Quando cheguei para buscá-la, as minhas pernas tremendo subindo as escadas, abri a porta desesperada, e ... lá estava a minha mãe, de pé, e ela, a minha bebê...

"... o cabelo dela, preto e cacheado, os olhos, amendoados, e igualmente pretos, lindos... a pele, branca, branca, branca... o vestido azul, ela, no colo da minha mãe, seu olhar, seu sorriso..."

Tudo igual. Tudo real. O tempo voltou no tempo. Maria Eduarda me disse com aquele olhar: "Estou aqui, mamãe, a sua Maria Eduarda..." E sorriu. E eu...dá para imaginar, né??? Continuo chorando... sempre que lembro, ou conto, ou , agora, digitando...

Náo foi um sonho. Não foi um delírio. Eu, Maria Eduarda e Papai do Céu sabemos disso.



3 comentários:

  1. Eu não tenho mais idade para essas emoções não..

    Lindo, lindo, lindo.. Salve Maria Eduarda!

    Ivan.

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  2. Gracias, mi Ivan, Zinha, Xoo... She´s really something...

    Bjos.

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  3. Bom... como já te disse, adorei o post. Mas hoje fui ainda mais surpreendido pelo novo visual de seu blog. Adorei. É a sua cara.

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